quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Texdios 48

Há uma subcultura dos paciêntes do SUS que esperam seus tratamentos
e batem papos nas filas; é mais respeitado quem tem o maior tumor.
Tumores deformadores são os mais desejados, sendo verdadeiros
representantes de virilidade e poder.
Mas é claro, há uma gradação referente a localização:
um tumor no testículo vale mais que mil tumores no intestino grosso.
Há um quê de nobreza em gônadas gigantescas que servem de cadeira,
estando o paciente sempre confortável durante a espera na fila.
A honra é muito importante nesse meio. Pacientes terminais são ouvidos;
Portam uma sabedoria desmedida sobre tudo que foi e tudo que será.
Não há distinções por classe social, raça ou credo.
Só há distinções por tumores.
A honra máxima é a morte; o sacrifício final.
Há algo que se entender nisso tudo:
Um paciente que se cura é um assassino.
Ele mata seu tumor, acaba com a sua vida, o que é uma ofensa gravíssima
numa sociedade de tumores.
Nesse meio, as pessoas entendem seus papéis de maneira singular.
Elas são meros alimentos, portadoras de algo muito maior.
Cápsulas que carregam consciências que formam uma consciência única
chamada Câncer.
Os que morrem são os grandes heróis que deram o máximo de suas vidas
para que o bem maior fosse atingido.
Pois o que vale é o Câncer,
Algo menos humano
e muito mais do que humano...

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