terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Texdios 37

Micropeça em três atos
PRIMEIRO ATO
Blackout; foco de luz no centro, um homem sentado numa cadeira começa seu monólogo
MONTENEGRO: Toda vez que você for se despedir, faz isso como se você soubesse que vai morrer. Desse jeito, quando você morrer de verdade, vai parecer que sabia das coisas e entrar pra história.
Fade Out na luz
SEGUNDO ATO
Iluminação total do palco, dois indivíduos conversam no canto esquerdo.
SILVANA: 'cê acha que pra amanhã consegue gravar o CD pra mim, então?
FABIN: Silvana, eu não sei. Acho que o dia de amanhã não sorrirá para mim... quando o sol da manhã tocar minha carne, ela estará gelada e num leve grau de putrefação. Creio eu já ser alimento de verme, só ainda o não saber. No estado em que se encontra meu corpo, a fina linha entre cadáver e ser vivo já foi rompida tem tempo. Minha mente voa e não atinge o céu... sobrou-me somente o inferno onde caminho; quanto mais voa minha mente, mais meu corpo caminha no fogo.
SILVANA: Ai, pára com isso, Fabin! Todo dia essa mesma baboseira... traz o CD, sem desculpas!
FABIN: (num tom de voz apático) Como você preferir...
Blackout; (Silvana sai de cena) Fabin e Montenegro devem posicionar-se rapidamente no centro do palco, de forma que a luz possa acender o mais rápido possível mostrando-os estáticos, começando a conversar. A cena inteira deve ter tensão sexual intensa.
FABIN: É hoje que você me leva, Montenegro?
MONTENEGRO: Sim, hoje é o dia, como em todos os dias. Só quem se segura é você.
FABIN: É hoje, então. Agora eu tô pronto... Adeus.
MONTENEGRO: Eu encontro com você até no inferno.
Blackout; (Fabin sai de cena) Montenegro e Silvana devem posicionar-se rapidamente à direita do palco, de forma que a luz possa acender o mais rápido possível mostrando-os estáticos, começando a conversar.
SILVANA: Que cara é essa, Montenegro?
MONTENEGRO: (com um olhar distante de quem não aceita a realidade) O Fabin morre-re-re-re-u...
SILVANA: Deixa de palhaçada!
MONTENEGRO: Não faço palhaçada e você sabe disso.
SILVANA: (começando a chorar) Mas... como pode?
MONTENEGRO: Morreu de morte morrida. O coração não quis mais bater; fez tum tum tum feito uma escola de samba e depois parou.
SILVANA: (gritando enquanto cai no chão de joelhos) Fabiiiiiiiin!
Fade out na luz
TERCEIRO ATO
Luz acende vagarosamente; Montenegro está sentado na mesma posição do primeiro ato. Atrás dele, Fabin e Silvana fazem movimentos de dança abstrata apaticamente
MONTENEGRO: Fabin cometeu um erro básico. Ninguém conhecia ele, só a Silvana. A Silvana nunca foi uma pessoa de valor, morreu na bobeira também. Nunca ouviram a história de Fabin, Fabin nunca teve história pra ser escrita. Mas se no fim tudo se acaba, se a morte torna todo o mundo uma ilusão, de que vale viver? Vale mais morrer com estilo do que viver sem razão. Por que não plantar bananeira antes de se jogar da ponte? Se é pra acabar, que seja um gran finale!
O ator deve virar de costas, pegar um revólver que está escondido atrás da cadiera e dar um tiro em sua própria cabeça de forma que sangue e cérebro voem na platéia. Isto não deve ser interpretado, deve ser realizado. O suicídio é crucial para o funcionamento da peça. Fabin e Silvana permancem dançando apáticos enquanto o pano desce.

O FIM.

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