domingo, 23 de janeiro de 2011

Texdios 35

Apresentaram-me, certa vez,
Um papel branco devoido
De significado.
Disseram-me
Que eu deveria preenchê-lo
Com tudo o que há neste universo
Porém, o que fiz foi o inverso:
O papel de voidado, nada tinha;
Estava cheio de ponta a ponta
Com rabiscos acadêmicos
Irregularmente homogêneos.
Tornei-o o que deveria ser,
Um
Vazio orgânico inexplicavelmente desagradável.

Texdios 34

Eu sou o maior poeta do século vinte e um!
Sei disso pois conheço o filho
Do único psicólogo do Brasil!
E esse rapaz mesmo já me disse:
Maior que você, não há!
Só há poetas menores;
Tal qual aquele poeta
Menor, menor, menor, menor... me
Diga quem conseguir dizer o contrário;
Apresentem-me, pois, um poeta vivo
Maior do que eu -eu -eu;
Que escreverei um poema em sua homenagem
Para mostrar-lhe o que é a verdadeira
Poesia marginal digressista
Altamente eloquente em seu próprio
Ser-se-eu de meu.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Texdios 33

Agora entendo, finalmente,
Porque eu escrevo.
Não é porque eu tenho algo a dizer;
Não é porque eu gosto;
Não e porque os outros gostam:
É porque eu preciso!
Sem criar, sem escrever,
Sei que vou enlouquecer.
Seja música, seja poesia,
Seja noite, seja dia
Seja conto ou romance
Demorado ou de relance;
Basta que seja meu-eu-eu!

Texdios 32

Tem dias que a gente escreve muito
Tem dias que a gente escreve pouco
Tem dias que um nasce defunto
Tem dias que nasce um natimorto
No fundo, no fundo
No fundo, no fundo
No fundo, no fundo
No fundo, no fundo
No fundo, no fundo
Nó fundo, no fundo
No fundo, no fundo
No fundo, no fundo
No fundo, no fundo
No fundo, no fundo
No fundo, no fundo
No fundo, no fundo
No fundo, no fundo
No fundo, nó fundo
Não faz difeeerença.
Importa o tic tac
Tic tac, tic tac, tic tac.
Afinal,
"Meu pai era Relojoeiro;
Quando Einstein descobriu que o tempo é relativo,
abandonou a profissão."

Texdios 31

O mundo anda muito cético,
Precisamos de um sonhador!
Enquanto isso, eu ando na corda bamba.
O século XXI é realista ao extremo.
Ao menos o são todos ao meu redor.
Quero ser essa pessoa que sonha,
Mas enxergo a realidade:
Se sonhar, sei que vou cair.
Tiro os pés do chão,
Logo volto.
Tenho medo da grande queda
Pois enxergo toda sua altura.
Escolho cair enquanto ainda vôo baixo;
Atitude medrosa.
Ou seria sabedoria?
Aguardo o dia em que cairei conscientemente,
Sabendo a queda que me espera e a dor que sentirei.
Nesse dia, aguentarei a queda como JC a cruz.
Morrerei rapidamente para voltar bendito;
Pois é vendo o fundo do poço que se voa com os pés no chão.

Texdios 30

As vezes eu me pergunto
Se eu tenho razão pra escrever.
Se eu tenho o que dizer;
Se eu só me repito.
E isso mesmo, esse questionamento,
Já não o escrevi antes?
"Everything is copy of a copy..."
Cuidado:
A sombra sonda a esquina sutilmente;
Bobeou, fica no escuro.
E esse é o maior mal: A cegueira.
Há quem diga que tem cura...
Espero que sim.
Cegueira sutil...
Você vê, mas escolhe ignorar.
A gente acha que não,
Mas faz muito isso.
A questão não é errar:
É admitir o erro.
Não para os outros!
Para si.
Afinal, é a única pessoa
Que nós realmente podemos enganar.
Os outros estão sempre enganados,
Se enganando.
Se engana achando que é poeta;
Inteligente; especial; criador.
O que estou tentando provar?
Eu sei bem o que é...
Se quero ver ou não,
Aí é outra história...